Crónicas da Rússia... ou a Inês no Campeonato do Mundo de Trampolins

Crónica final...

16 de Novembro Saint-Petersburg.

Já chegámos, só hoje é que conseguimos dar noticias. Acabámos o 2º treino do dia. Aqui são mais 3 horas. Iniciámos com um warm up de 45 minutos e passámos depois para a zona de competição mais 45 minutos. Correu bem, estamos a ganhar confiança! A concorrência é forte, mas ATÉ OS PARTIMOS TODOS!

Beijos e abraços

17 de Novembro – Saint-Petersburg.

Manhã escura e húmida na cidade dos Czares. No entanto, acordámos cheios de vontade para mais um dia de trabalho. Após um primeiro treino no warm up hall, logo às 09:00h, seguiu-se um segundo no recinto de competição, às 09h40.

Foram mais dois treinos que serviram para adaptação ao espaço e aos aparelhos de competição, e para continuarmos a "afinar" as séries. Balanço positivo, com necessidade de aumentar ainda mais a concentração e determinação para conseguirmos atingir os nossos objectivos. A mudança da hora está a começar a causar estragos...

Ás 13h 40m voltamos à carga com mais um treino, agora no training hall.

Amanhã será o nosso último dia de treinos, marcado também pelo início das competições. Aproveitamos para desejar boa sorte a todos os ginastas da comitiva lusa e também aos restantes participantes. Até logo

18 de Novembro – Saint-Petersburg.

Ultimo dia de treino livres e primeiro dia de competição.

O nosso dia começou com a cerimónia de abertura e terminou a assistirmos às finais de 17/18 anos de trampolim sincronizado masculino, onde esteve presente um par nacional.

O dia de hoje para os portugueses não foi brilhante, muitas falhas e alguns objectivos por cumprir. No entanto, alguns dos candidatos crónicos também falharam... foi um dia um pouco atípico. Realizaram-se as provas nos 3 aparelhos: tumbling 13/14 anos, trampolim individual 11/12 anos, trampolim sincronizado 17/18 anos e DMT 15/16 anos, para ambos os sexos.

Destaca-se a prestação no escalão de 11/12 anos raparigas, em que metade apresentou a série de competição com 6 a 8 múltiplos (ops).

Em relação a nós, basta dizer que eu e o Pedro temos a certeza que amanhã vos estamos a dar notícias de que atingimos os objectivos. A Inês está super.

19 de Novembro, parte I - Saint Petersburgo

Olá a todos! Desta vez sou eu, a Inês quem vai escrever. Como devem calcular o dia de hoje foi extremamente emocionante. No dia anterior só tive um treino que correu “mais ou menos” e desde aí estava uma pilha de nervos. Quando comecei a ver a competição dos outros escalões, só me imaginava lá no meio, com toda aquela gente a observar.

Essa noite não foi propriamente fácil: quando cheguei ao quarto despertei e não conseguia adormecer... estão mesmo a imaginar no que estava a pensar! Nunca me tinha acontecido tal coisa, quase nao dormi nada. Depois dessa noite “bem dormida” e do pequeno almoço, fomos para o pavilhão assistir a mais umas provas que não me deixaram mais descansada.

As 11:30 fui preparar-me - vestir o maillot, arranjar o cabelo, essas coisas de mulher e ginasta, e fui para a zona de aquecimento, o warm-up hall. Antes de começar a aquecer ainda tive tempo de ir buscar o leitor de mp3 da Denise, sem o qual ela não se conseguia concentrar para a prova, por isso também contribuí para a sua boa prestação neste campeonato (passou ás finais em 1 lugar).

Aqueci com outras colegas de grupo (russas, japonesas, irlandesas...) e entramos na pista com toda a força. O aquecimento correu bem, fiz as minhas séries e apesar de nervosa estava pronta para entrar para a competição. Entrei para o recinto de prova incentivada pelo meu treinador, acompanhada pela música e atrás de uma colega irlandesa; tivemos duas passagens de aquecimento e por acaso não fiz as séries em nenhuma delas, mas também não foi por isso que me chateei... concentrei-me na prova e quando foi a minha vez, subi para cima da pista, exibi-me com o meu lindo maillot, e fiz a série no meu melhor.

Como as marcações nunca foram o meu forte, fiz a recepção na pista do salto final... a segunda série correu bem, mas tive um sustozinho, pois alonguei tanto os tempos que ia caindo na recepção no full antes do barany! Felizmente, por centímetros não aconteceu.

E pronto, foi assim que depois de ter terminado a segunda série, com o maior dos sorrisos fui dar e receber um abraço ao Tó. Estou pronta para outra. Espero e ter companhia de mais alguém do Gimno, por isso vamos ao trabalho!

19 de Novembro, parte II - Saint Petersburgo

Depois de uma manhã excitante como esta, fomos almoçar ao mesmo local de sempre, no pavilhão, o nosso franguinho. Da parte da tarde, ficámos no pavilhão a ver as finais. Neste dia, vários portugueses foram finalistas e por isso estava a comitiva em peso a gritar e puxar por eles, o ambiente estava um espectáculo, os portugueses faziam-se ouvir, no entanto só o Marco Conceição conseguiu um lugar no pódio, um segundo lugar.

Regressamos ao hotel e o To e o Pedro foram tentar arranjar bilhetes para o comboio para irmos para Moscovo, no entanto quando fomos jantar encontrei-os bastante deprimidos, pois o preço que lhes tinham pedido era um tanto elevado.

Mas não foi por isso que desistiram da ideia! Depois do jantar fizemos as malas e partimos para a estação de comboios, onde acabámos por arranjar bilhetes em conta e partir para a capital russa (isto parece a feira da ladra).

Os camarotes onde ficámos eram de 4 pessoas (duas camas em cima e duas em baixo), e visto que éramos 3 calhou-nos um "brinde" que não falava nada a não ser russo e ao qual atribuímos a alcunha de "urso".

Para mim e para o Pedro, que dormimos nas camas de cima, a noite foi pacifica... para o Tó, que dormiu ao lado do senhor, acho que não foi assim tão calma.

Amanha relatamos a nossa aventura em Moscovo.

Beijinhos

20 de Novembro

Depois de vermos as finais do dia, com cinco portugueses nas finais e boas prestações, mas alguma falta de sorte que originou uma só medalha de vice campeão em DMT (escalão de 17 18 Anos), decidimos aproveitar o dia seguinte para fazer uma viagem a Moscovo.

Foi uma aventura, onde mais uma vez pudemos verificar a grande liberdade e igualdade social, assim como a preocupação com os direitos dos trabalhadores.

Começámos por constatar, estupefactos, a qualidade do parque automóvel em determinadas zonas, tanto em Saint-Petersburgo como em Moscovo, e ficámos “parvos”, para não dizer aterrados, quando verificámos que no metropolitano ninguém fala (mandaram-nos calar) e as pessoas na sua maioria, para não dizer todas, viajam no máximo aos pares!

Já sem surpresa, as horas de trabalho quer dos empregados do hotel (bar do hotel) quer do Metro ultrapassam em muito as 8 horas diárias...

Mas relevando tudo isto, surpresa das surpresas, afinal mais parecia estarmos em Marrocos, Tunísia ou afins…. e não na Rússia! Para comprar bilhetes sem que nos “limpassem”, literalmente, a conta bancária, foi necessária a ajuda de uns jovens russos que falavam inglês (milagre...)!

Desculpem-nos, não está correcto!

Deve ser dito que “quiseram falar inglês” e não “que falavam inglês”, pois estamos convencidos que grande parte da população fala e domina esta língua estrangeira, mas não abdica da falar Russo por questões de identificação Nacional.

Dizer-vos ainda que quase não existe informação em inglês, ou em qualquer outra língua que não seja Russo; percebam, pois, a nossa dificuldade em saber preços de alguns produtos ou bens, como era o caso da viagem que queríamos iniciar.

Finalmente, conseguimos comprar os bilhetes ao preço normal(?!) ou aceitável, (3000 rublos ida e volta) e ainda hoje não sabemos se é exactamente este o preço da viagem Saint-Petersburgo – Moscovo – Saint-Petersburgo.

Se houve algo que aprendemos nesta estadia na Rússia, foi que se puderem enganar-nos, fazem-no. É um povo por tendência desconfiado e por isso muitas vezes antipático e rude.

Deixando as questões paralelas, tínhamos pela nossa frente sensivelmente 8 horas de comboio. A Inês já descreveu como decorreu a viagem, portanto vamos avançar para o nosso dia em Moscovo.

Ao sairmos da estação, parecia que estávamos a desembarcar no Martim Moniz, com grande miscelânea de culturas e cheiros, assim como um ambiente pesado e de alguma insegurança; dirigimo-nos para o Metro, onde conseguimos que nos indicassem, em russo, qual a estação que ficaria mais perto do Kremlin e da Praça Vermelha!

Estivemos em locais onde nenhum de nós jamais pensou estar.

Visitar o Kremlin, passar em frente do Mausoléu de Lenine e estar no centro da Praça Vermelha, foram alguns dos pontos altos do dia. Saboroso e tradicional foi o nosso almoço na praça vermelha: “MacDonald’s”!

Ainda tivemos tempo para visitar uma Catedral enorme e majestosa, onde tivemos o privilégio de assistir a uma celebração emocionante onde todas as mulheres (incluindo a Inês) tinham de estar com a cabeça tapada por um lenço, um gorro ou algo do género.

Foi um dia super cansativo, mas espectacular. Valeu a pena, dormir com “o urso”.

Faltavam-nos 8 horas de regresso . Esta viagem foi diferente, não houve “Urso” passou a ser uma “girafa” .

Como ainda não tínhamos festejado a realização dos objectivos propostos e não tínhamos sono, fomos para a carruagem restaurante brindar com a famosa vodka russa... a Inês fez o brinde e salientou as suas ambições futuras.

Foi um serão bem passado. Chegamos a SP as 5:28 em ponto e fomos para o hotel. Entrámos eram 6:45. Foram quase 36h espectaculares, com muitas aventuras e diversão e uma pequenina falta de higiene.

Até sempre Moscovo!